Saúde Pública : 661 profissionais de enfermagem são afastados em Santa Catarina


Ao menos 59 dos profissionais que atuam na linha da frente já receberam diagnóstico positivo para a doença

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Um levantamento do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) ao qual a reportagem teve acesso indica que 661 profissionais de enfermagem já foram afastados de suas funções em Santa Catarina por suspeita ou confirmação de coronavírus.

Os técnicos de enfermagem e enfermeiros, na sua maioria mulheres, trabalham na linha de frente ao combate da doença em hospitais públicos, filantrópicos, centros de triagens e unidades básicas espalhadas pelo território catarinense .

Conforme o painel de monitoramento atualizado em tempo real, pelo menos 59 desses profissionais já receberam diagnóstico positivo para a doença.

Os outros 602 apresentaram sintomas da Covid-19 e foram afastados de suas funções.

Criado pelo Gabinete de Crise do Cofen, o quadro acompanha em tempo real o impacto da pandemia entre enfermeiros e técnicos de enfermagem no país. Os dados são informados pelos próprios servidores ao observatório e contemplam profissionais de todos os estados que trabalham na rede pública, filantrópica ou privada.

No Brasil, mais de 8,3 mil funcionários, que apresentaram suspeita ou tiveram a doença confirmada, deixaram seus postos de trabalho desde o início da pandemia.

Destes, pelo menos 50 já morreram vítimas da doença. A primeira morte confirmada em Blumenau, no Vale do Itajaí, por exemplo, foi a de uma profissional de saúde.

Vanesa Neuber Salm, técnica de enfermagem de 34 anos, estava internada desde o dia 7 de abril no Hospital Santa Isabel. Ela morreu na manhã de terça-feira (5).

A profissional, que deixou três filhos, pertencia ao grupo de risco, pois convivia uma doença autoimune. Outros dois profissionais da área já morreram no Estado – um servidor da Vigilância Sanitária de Tangará, no Oeste, e um médico no litoral Norte.

Entre os profissionais afastados no Estado por conta do vírus está Geraldo*, de 48 anos. Enfermeiro em um hospital da região Norte, o servidor pediu para não ter o nome divulgado com medo de represália.

No local em que Geraldo trabalha, há leitos de UTI para tratar casos de coronavírus. Na região, estão oito hospitais com 281 leitos de UTI ativos.

Diagnosticado com a doença há duas semanas, ele garante que fez uso dos equipamentos obrigatórios de prevenção e seguiu as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Após os primeiros sintomas, foi afastado do trabalho. Ainda em recuperação, Geraldo teme retornar ao serviço: “O pior é voltar. Estamos expostos o tempo todo”, lamentou. Além do medo de ficar doente, os profissionais na linha de frente têm receio de espalhar a doença e levar o vírus para dentro de casa.

Apesar dos cuidados, a esposa de Geraldo, 50 anos, também foi diagnosticada com Covid-19.

A mulher passou dois dias na UTI em decorrência de insuficiência respiratória – um dos sintomas da doença.

Em Zortéa, no Meio Oeste, o primeiro caso confirmado da Covid-19 também foi de um profissional de saúde.

Servidor de um hospital de Concórdia, o homem que não teve a identidade divulgada teve confirmado o diagnóstico da doença na última terça-feira (28). Sete dias depois, a cidade já tem sete confirmados, conforme dados da prefeitura.

A cidade tem 3.363 habitantes, segundo dados do IBGE. Médicos e outros profissionais Mas não são apenas os enfermeiros os profissionais expostos ao vírus na área da saúde. Médicos, seguranças e servidores da limpeza também correm o risco.

A SES (Secretaria de Estado de Saúde) confirmou que pelo menos 75 destes profissionais que trabalham para o governo do Estado já testaram positivo para o vírus.

Destes, 16 são médicos intensivistas com outras especialidades que trabalham nos hospitais estaduais de Santa Catarina.

A informação é da última sexta-feira (30). Prevendo as baixas, a SES contratou 112 médicos, 90 enfermeiros e 261 técnicos em enfermagem neste período de coronavírus.

Um treinamento de capacitação também foi feito com mais de cinco mil profissionais.

Na tentativa de reforçar o serviço, o Estado está com processo seletivo simplificado aberto para contratação de 94 médicos para 10 unidades hospitalares.

Apesar de ser uma baixa, o índice, segundo o SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado), não mostra o tamanho do desfalque que a doença já deixou na saúde .

Cleidson Valgas, diretor de saúde do trabalhador da categoria, afirma que o governo deixou de repassar o número de profissionais das redes municipais e hospitais filantrópicos afastados por causa da doença. “A gente pediu para o governo repassar esses dados para sabermps o tamanho do buraco, mas eles não passam”, disse o representante do SindSaúde.

 

Contraponto

A SES rebate o questionamento do sindicato e afirma que as unidades de saúde é que devem notificar o número de profissionais afastados do trabalho.

Neste momento, o executivo estadual “atua para integrar esses dados”. O CRM (Conselho Regional de Medicina), por sua vez, informou que vem coletando dados dos profissionais com a doença, mas que não irá repassá-los, pois seriam sigilosos.

Expostos fora de hospitais Mesmo fora dos hospitais, os profissionais de saúde estão expostos.

No sistema prisional, das três pessoas com a doença até o momento, um é enfermeiro de Joinville e outro foi confirmado como sendo um dentista que atende presos em Florianópolis.

O terceiro caso foi registrado em um detento, também na Capital. Além disso, profissionais integram equipes interdisciplinares em outros locais.

Estão presentes em casas de repouso e clínicas que coletam exames, realizam cirurgias eletivas e outros procedimentos.

  • Como preferiu não se identificar, o enfermeiro entrevistado pela reportagem recebeu nome fictício. Como ilustração, a reportagem 
  • o chamou de Geraldo Beata da Cruz – em alusão ao enfermeiro brasileiro conhecido por cuidar de soldados feridos durante a 2ª Guerra Mundial, na Itália.
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