Suspenso desde 18 de março, o transporte coletivo fica parado ao menos até 30 de abril. Sem perspectiva de retomada segura das atividades, as empresas já demitiram pelo menos 33 motoristas na região.
Em Itajaí, a Transpiedade dispensou 15 trabalhadores. A viação Praiana demitiu oito pessoas.
Segundo o sindicato da categoria, os demitidos são trabalhadores que ainda estavam em contrato de experiência. Pela Catarinense, foram outros 10 demitidos de Itajaí, das quase 200 demissões da empresa pelo estado.
A viação Nossa Senhora dos Navegantes, que atende diversas cidades na região, e a Expressul, em Balneário Camboriú, suspenderam temporariamente os contratos de trabalho, ainda sem demissões, com base na medida provisória que prevê acordos trabalhistas.
O sindicato dos motoristas da região atua pra garantir os empregos, mas prevê mais demissões caso a suspensão do transporte público persista.
Empresas e municípios trabalham em propostas que possam permitir o retorno do transporte de modo seguro pra população, enquanto aguardam novas definições do governo estadual.
O estado informa que ainda não tem expectativa de liberação do serviço, alegando dificuldades em criar normas preventivas na utilização dos ônibus.
Em Itajaí, a prefeitura planeja o retorno e elabora proposta pra ser apresentada à empresa. As medidas preveem ações nos locais com mais usuários, avisos sonoros nos terminais e normas de higienização pra minimizar a propagação do vírus.
“Mas é necessário aguardar o governo do estado e entender o que ele dispõe sobre o tema”, explica Benício Silvio da Silva, diretor de Mobilidade da secretaria de Urbanismo.
A empresa Transpiedade informou que se prepara pro retorno dos serviços, destacando que todas as medidas de segurança serão tomadas pra atender os passageiros. “O foco agora é estudar a melhor operação para a retomada das atividades, que ela seja sustentável e com segurança para nossos colaboradores e clientes”, adianta.
Serão fornecidos dispensadores de álcool em gel na frota inteira e dois em cada terminal – Cordeiros e Fazenda.
A higienização dos ônibus também será reforçada pra combater o vírus. “Além disso, a empresa solicitou ao município um reforço nos trabalhos de higienização dos terminais de passageiros. E os bebedouros não funcionarão”, ressaltou a Transpiedade em nota.
A empresa informou que, num primeiro momento, devido à pandemia e às incertezas quanto à retomada dos serviços em Itajaí, deu férias de 30 dias a todos os funcionários. Quinze trabalhadores foram demitidos.
“A Transpiedade aguarda novas orientações do governo para a retomada das atividades”, completa.
Conforme a prefeitura, repasses de dinheiro à Transpiedade estão suspensos enquanto perdurar a paralisação do serviço.
A empresa vem tocando o transporte emergencialmente em Itajaí desde 2017, enquanto a prefeitura prepara a licitação definitiva. “Todos os pagamentos realizados à empresa são de períodos anteriores à paralisação, pois o serviço já foi prestado e necessita ser remunerado”, explica Benício Silvio da Silva, diretor de Mobilidade da secretaria de Urbanismo.
Ele informou que o edital de licitação segue sob a análise do tribunal de Contas do Estado (TCE).
O documento foi entregue em janeiro, ainda sem retorno ao município.
Ônibus é vetor de transmissão do vírus, diz estado.
O secretário estadual de Saúde, Helton Zeferino, disse em entrevista coletiva que a facilidade de transmissão do coronavírus dentro dos ônibus é o principal empecilho pra liberação do transporte público.
Ele aponta que, além das pessoas precisarem tocar em bancos, corrimãos e suportes durante o percurso e na entrada e saída dos ônibus, há a questão do espaçamento entre passageiros. “Essa parte operacional precisa ser muito bem ajustada”, analisa.
Conforme o secretário, as normas devem ser pensadas pra garantir o controle do contágio nos ônibus e terminais. “Por isso não temos ainda expectativa de liberação do transporte coletivo justamente pela dificuldade de análise desses ambientes”, diz.
Em Balneário, Expressul discute equilíbrio financeiro da concessão
A Expressul, que toca o transporte coletivo em Balneário Camboriú, discute com o município a questão financeira da concessão e medidas para quando houver a retomada do serviço. A empresa suspendeu o contrato de trabalho dos 120 funcionários por dois meses.
O acordo garante o salário do trabalhador, com 30% bancado pela empresa e os outros 70% pelo governo federal, via seguro-desemprego.
Conforme o diretor da empresa, Evandro Luiz Ern, havendo a retomada – e ele acredita que o estado deve prorrogar a suspensão – será preciso ajustar os valores da concessão pra evitar o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato.
Evandro prevê que a demanda caia pela metade após a volta do serviço e que leve pelo menos três meses pra a normalização do movimento após a retomada.
Outro desafio, conforme observa, é como o serviço poderá funcionar. Ele leva em conta que o transporte atende milhares de idosos em Balneário e que uma eventual limitação da capacidade eleva os custos e cria problemas operacionais, como a possibilidade de ter que barrar passageiros que esperam nos pontos.
Para o secretário do sindicato dos motoristas de Itajaí, Carlos César Pereira, as empresas da região “estão segurando até onde dá” pra evitar demissões.
Férias coletivas, antecipação de férias, suspensão de contratos e redução de jornada e salários estão entre as medidas negociadas pra manter os empregos.
César avalia que as empresas sabem que o motorista é uma mão de obra qualificada que pode ser difícil recuperar depois. Ele observa, porém, que há risco de as dispensas aumentarem na região se o transporte seguir suspenso por muito tempo. “Estamos fazendo de tudo pra preservar os empregos”, destaca.
Pelo estado, a viação Catarinense demitiu 180 trabalhadores, a maior parte da Capital. Pelo menos 10 dos demitidos eram trabalhadores de Itajaí ou região.
A empresa ainda fez acordo pela redução de 25% de salário e jornada, conforme critérios da medida provisória.
Em Gaspar, a empresa de transporte demitiu todos os 42 empregados.
Em Blumenau, houve dispensa de 110 funcionários, mas o sindicato conseguiu uma liminar pela reintegração dos trabalhadores. Na região da Grande Florianópolis, as empresas suspenderam os contratos de trabalho por dois meses.