Exame de sangue detecta câncer precocemente em estudo com 10 mil mulheres


Exame de sangue detecta câncer precocemente em estudo com 10 mil mulheres

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Um grande estudo publicado nesta terça (28) pela revista Science mostrou que é possível detectar precocemente diversos tipos de câncer com base em exames de sangue, descobrir onde exatamente os tumores estão a partir de exames de imagem e tratá-los antes que eles progridam para estágios mais agressivos.

A identificação do câncer ainda nos estágios iniciais é, depois da cura, talvez o maior desejo de pacientes e oncologistas.

A maior parte das pessoas que morrem de câncer descobre a doença já em estágio avançado, etapa em que os tratamentos são menos efetivos (como algumas quimioterapias) ou não podem ser empregados (como cirurgias).

Foram recrutadas para o estudo 10 mil mulheres entre 65 e 75 anos residentes nos EUA. Essa é a faixa etária em que a ocorrência de câncer já é razoavelmente alta.

O motivo para restringir a análise ao sexo feminino é que ainda não existem exames de rastreamento capaz de detectar precocemente o câncer de ovário —e, no fim das contas, seis pacientes com esse tipo de tumor foram identificadas graças ao estudo.

Além disso, essa faixa etária também costuma acumular comorbidades como obesidade, pressão alta e diabetes, o que torna o desafio da busca por tumores algo mais próximo do que se encontraria no mundo real, onde as doenças se misturam e atrapalham o desempenho dos métodos diagnósticos.

Células de câncer de mama, vistas com auxílio de microscópio eletrônico Células de câncer de mama, vistas com auxílio de microscópio eletrônico; a imagem foi colorida em computador - Khuloud T.

Al-Jamal, David McCarthy e Izzat Suffian O exame de sangue, batizado de Detect-A, consiste em uma análise de nove proteínas, chamadas de marcadores tumorais por serem produzidas por células cancerosas, e 16 genes que rotineiramente estão envolvidos na transformação (ou malignização) de células saudáveis.

Um desses genes, por exemplo, é o p53, conhecido por sua função de controlar a divisão celular. Quando o gene acumula mutações, a probabilidade de surgir um tumor aumenta.

“Hoje já é possível confirmar o diagnóstico e acompanhar a evolução de algumas neoplasias através de exame de sangue [a chamada biópsia líquida], estratégia utilizada em alguns países como os EUA para monitorar tumores como pulmão, mama, próstata e intestino.

Mas o exame ainda não é capaz de detectar a doença em estádios iniciais, quando a quantidade de material genético do câncer no sangue é mínima”, afirma Fernando Maluf, diretor de oncologia clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

No protocolo adotado, as pacientes que apresentaram alterações no primeiro exame de sangue (490) foram submetidas a uma segunda análise de confirmação. Não é incomum que essas proteínas estejam anormais ou que mutações no chamado DNA circulante se deem em pessoas saudáveis.

Depois da segunda rodada de exames, foram descartados casos em que a anormalidade não se repetiu (142) ou que tinham a ver com mutações que, na verdade, estavam presentes em algumas células brancas do sangue (214), o que minimiza a chance de ela ter refletir a presença de um tumor.

Ainda assim, três casos de câncer foram encontrados neste último grupo por outras formas que não o protocolo do estudo.

Os casos em que houve repetição da alteração foram analisados por um comitê multidisciplinar que buscou explicações — consequências de doenças crônicas, por exemplo.

Restaram, assim, 134 pacientes consideradas “positivas” pelo exame de sangue. Cento e vinte sete pacientes receberam indicações para passar por exames de imagem, como a PET-CT (tomografia computadorizada por emissão de pósitron), um exame muito comum na prática oncológica que é capaz apontar, em boa parte dos casos, onde exatamente está o tumor no organismo.

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